Pesquisadores conseguem decodificar papiro queimado pelo Vesúvio com IA


Em março, um grupo de pesquisadores lançou o “desafio Vesúvio”, cujo propósito é acelerar a decodificação de papiros queimados na erupção do Monte Vesúvio, que atingiu Pompeia em 79 d.C.. Quase dois mil anos depois, especialistas conseguiram decodificar a primeira palavra de um dos rolos graças à inteligência artificial.

A descoberta foi anunciada na quinta-feira (12) pelo cientista da computação Brent Seales, professor da Universidade do Kentucky, nos Estados Unidos, e um dos fundadores do desafio do Vesúvio. O projeto tem o apoio de investidores do Vale do Silício, que oferecem prêmios em dinheiro para pesquisadores que extraírem palavras legíveis dos papiros carbonizados.

“Este é o primeiro texto resgatado de um desses rolos intactos”, disse o pesquisador Stephen Parsons, que faz parte da iniciativa de restauração da Universidade do Kentucky, ao jornal britânico The Guardian.

Os rolos que não tinham sido abertos foram recuperados da biblioteca da vila que acredita-se ter sido de uma importante figura romana, possivelmente o senador Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino, sogro de Julio César. Trata-se da única biblioteca a sobreviver à antiguidade, logo, há bastante interesse no que dizem os rolos, conhecidos como Papiros de Herculano. Os materiais atualmente fazem parte da coleção do Instituto da França em Paris.

A maior parte dos textos analisados até o momento foram escritos em grego antigo, mas é possível que outros tenham sido escritos em latim.

Desde então, mais palavras foram decodificadas pelo projeto.

Desafio Vesúvio

Para lançar a iniciativa, Seales e sua equipe liberaram milhares de imagens de raio-X em 3D de dois rolos e três fragmentos de papiro, bem como um programa de inteligência artificial que treinaram para ler as palavras com base nas mudanças sutis que a tinta antiga causou à estrutura do papiro.

A primeira palavra foi decodificada pelos estudantes de ciência da computação Luke Farritor, do estado americano de Nebraska, e Youssef Nader em Berlim, na Alemanha. Ao entrar no desafio, eles melhoraram o mecanismo de busca do programa e, de forma independente, chegaram à mesma palavra grega em um dos pergaminhos: “πορφύραc”, que significa roxo.

Dois estudantes de ciências da computação chegaram à primeira palavra: roxo — Foto: Universidade do Kentucky
Dois estudantes de ciências da computação chegaram à primeira palavra: roxo — Foto: Universidade do Kentucky

“Essa palavra é nosso primeiro mergulho no livro antigo que nunca foi aberto antes e sugere realeza, fortuna e até escárnio”, afirmou Seales. “O que o contexto vai nos mostrar? Plínio, o velho, explora o ‘roxo’ em sua ‘história natural’, como um processo de produção para o púrpura tíria dos crustáceos. O Evangelho segundo Marcos aborda como Jesus foi ridicularizado por estar vestido com túnicas roxas antes de ser crucificado. Ainda não sabemos o que esse rolo em particular diz, mas acredito que será revelado em breve. Uma velha nova história começa para nós, com ‘roxo’ sendo um lugar incrível para se estar.”

Farritor foi o primeiro a descobrir a palavra, o que lhe rendeu um prêmio de US$ 40 mil. Já Nader recebeu US$ 10 mil.

O projeto continua: segundo o dr. Federica Nicolardi, um papirologista da Universidade de Nápoles Federico II, na Itália, há três linhas do texto, contendo dez palavras, que já estão legíveis e que podem ser decodificadas em breve.

“Para mim, ler as palavras dos papiros de Herculano é como pisar na Lua. Honestamente, eu sabia que o texto estava lá, esperando nós chegarmos, mas a chegada só ocorre no último passo. E com uma equipe tão talentosa trabalhando junto, ler as palavras é um passo que demos em direção a um novo território. Agora é hora de explorar”, completou o professor Brent Seales.


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