Pioneiro dos drones espera criar ‘tecnologia alienígena’ com IAs que projetam objetos físicos


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✈️ Aviões feitos por IA

“A web está morta”, profetizou a capa de setembro de 2010 da Wired, que completou a manchete nas páginas internas: “Vida longa à internet”.

Em um artigo escrito pelo então editor-chefe, Chris Anderson, a revista decretou o fim do acesso à internet via navegadores, cujo tráfego já havia sido superado pelo uso de aplicativos, de serviços de streaming e de “jardins murados” como o Facebook, à época a rede mais popular.

Treze anos depois, apesar de ainda acessarmos sites, a tendência se confirmou. Uma diferença fundamental, no entanto, é que a percepção pública em relação às empresas que controlam a internet se tornou negativa, após exemplos deletérios de sua influência em todo o mundo.

Abastecidas por algoritmos que privilegiam conteúdos divisivos — que despertam sentimentos nos usuários e, assim, geram engajamento —, as timelines ajudaram a mobilizar movimentos de extrema-direita e a minar a confiança no sistema democrático.

Foto: Aos Fatos

‘Long live the internet.’ Infográfico na Wired de setembro de 2010 mostra que acesso à web via navegador representava 23% do tráfego nos Estados Unidos (Acervo pessoal)

A inteligência artificial está entre nós há muito tempo. A espiral de ódio incentivada pelas plataformas só foi possível graças a modelos de aprendizado de máquina, aos algoritmos que radicalizam enquanto lucram e vice-versa.

No entanto, o surgimento de ferramentas de inteligência artificial generativa aumentou o conhecimento do público sobre o tema e a urgência do debate.

Se o mecanismo dos algoritmos de recomendação de conteúdo é opaco, o que dificulta a compreensão dos riscos envolvidos — a degradação da democracia —, no caso de um código capaz de criar imagens e vídeos realistas é evidente até para leigos que há perigo na esquina.

Pense, então, em modelos de inteligência artificial que podem projetar objetos. “Produtos físicos são, cada vez mais, apenas informação digital transmutada em forma física por dispositivos robóticos”, escreve Chris Anderson no livro “Makers: a Nova Revolução Industrial” (Editora Elsevier), publicado em 2012.

Com formação acadêmica em física, Anderson se tornou jornalista como repórter das revistas científicas Nature e Science, mas deixou a profissão e fundou a 3D Robotics, empresa pioneira de drones que criou e patenteou tecnologias de código aberto que se tornaram padrão da indústria.

“Apesar de termos arrecadado muito dinheiro, no fim das contas fomos derrotados pelos chineses, que conseguiram fazer [drones] ainda mais baratos e melhores do que nós”, disse Anderson nesta terça (17), em evento do Valor Econômico em São Paulo, com patrocínio da Embratel.

Agora, ele une a ideia que originou a 3D Robotics e sobre a qual escreveu em seu livro — de que objetos podem ser impressos com cada vez mais precisão e variedade de materiais — a modelos de inteligência artificial que estão sendo treinados para atuar como engenheiros projetistas.

A partir de conhecimentos da física, da aerodinâmica e de outros ramos, essas IAs criam projetos de aviões que, em seguida, são aprimorados por humanos. Boa parte dos componentes, como o chassi e até motores, já podem ser fabricados por impressoras 3D do tamanho de contêineres.

“Se alguma pessoa mostrasse um novo design, provavelmente poderíamos entendê-lo. A IA vai muito além do que poderíamos entender”, disse Anderson. “E algumas dessas coisas são boas, melhores do que podemos imaginar, talvez até do que poderíamos entender”, prosseguiu.

“Isso é o que chamamos de tecnologia alienígena.”

Foto: Aos Fatos

‘The good stuff.’ Chris Anderson treina modelos de IA para fazer projetos de engenharia de aviões (Alexandre Aragão/Aos Fatos)

Inovações tão radicais não ocorrem sem custo humano. “A Rússia e a Ucrânia basicamente usam nossa tecnologia [de drones] para matar. Não era a nossa intenção, mas acabou sendo a transformação da guerra”, afirmou Anderson. “Uma vez que você faz algo com código aberto, você não pode controlar o uso.”

“A lição positiva é que, enquanto governos tradicionais foram lentos em adotar essa tecnologia, governos não tradicionais — ou seja, guerra assimétrica, terroristas etc. — foram muito rápidos em adotá-la”, continuou. “Foi um alerta para os governos, que agora começaram a usar a tecnologia de forma defensiva e ofensiva.”

Essa lição deve ser levada em conta também para o que vem pela frente.

“Estamos preparados para gastar US$ 1 bilhão treinando uma IA em todas as simulações numéricas sobre fluidos e tensões, eletromagnetismo e fabricação — e em cada simulação comercial, de cada grande empresa de engenharia”, ele contou. É daí que, espera, saia alguma “tecnologia alienígena”, algo que humano nenhum ainda é capaz de vislumbrar.


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