Projeto surgido durante a pandemia, o podcast “Histórias com café” ganha a primeira edição presencial com o ciclo de debates que tem início nesta quinta-feira (5/10), no Teatro da Cidade, e segue até sábado (7/10). Convidadas discutirão os fazeres femininos no âmbito da escrita e da oralidade.
Os encontros se estruturam a partir de três eixos: “Mulheres que escrevem”, “Mulheres que falam” e “Mulheres que escutam”. Impossibilitadas de exercer seu ofício devido à pandemia, as narradoras de histórias Bárbara Amaral e Aline Cântia se puseram a pensar, em 2020, em algum tipo de encontro como forma de lidar com o cenário de isolamento social e para se manterem ativas profissionalmente.
Foi nesse contexto que nasceu o “Histórias com café”. Quinzenalmente, as duas partiam de livros, contos e inspirações cotidianas para construir narrativas próprias, homenagear mulheres que as inspiram e propor reflexões sobre o lugar do feminino no registro e na memória da vida em sociedade.
Ouvintes parceiras
Logo de saída, duas ouvintes aplicadas – Ana Martins e Paula Libéria – se juntaram a Bárbara e Aline no podcast. “Muitos ouvintes entram em contato conosco através das redes sociais. A motivação para o ciclo de debates foi o desejo de encontrar essas pessoas, as que estão em Belo Horizonte, para a gente poder se reconhecer olho no olho. Viemos do lugar da presença, fomos obrigadas a migrar para o ambiente virtual e queremos, agora, estar juntas de novo”, diz Bárbara.
Entre as convidadas para as mesas estão Nívea Sabino, Isabel Miranda e a carioca Camila Costa – única que não é de Belo Horizonte. “São mulheres que escrevem, que falam, que se expressam. E também mulheres que compilam, que recolhem histórias e mantêm viva a tradição oral. Camila tem uma obra com esse foco, ‘Chama das histórias: o Brasil contado por mulheres’, que ela lança no sábado, durante o ciclo de debates”, diz. No mesmo dia, Nadja Calábria autografa o livro “Vozes do Velho Chico”.
A cada dia, a mesa de debates será precedida por apresentação artística – de Joi Gonçalves, hoje; Chica Reis, amanhã; e Camila Costa, no sábado. A primeira vai tratar de mulheres poetas que participam de slams. Chica Reis levará ao público espetáculo que fala do silenciamento imposto às mulheres ao longo dos anos. No último dia do ciclo, o foco é a tradição da história oral brasileira, sobre a qual Camila Costa vem trabalhando.
Bárbara se refere aos encontros como a nova fase de “Histórias com café”. A ideia é promover periodicamente ciclos de debates. “Queremos expandir as discussões que começaram entre nós quatro no ambiente virtual para mais mulheres, em trocas presenciais”, ressalta.
“A mulher, desde sempre, contou a história, mas, durante muito tempo, houve um apagamento sobre o nosso lugar na função de registro e memória de um tempo, de nossas vivências. Algumas das histórias mais antigas e que continuam a ser contadas até hoje foram produzidas por mulheres”, observa ela.
Bárbara Amaral cita Luzia Tereza (1911-1983), narradora paraibana que registrou mais histórias do que os Irmãos Grimm, segundo aponta. Tardiamente reconhecida como guardiã das tradições orais, sua trajetória é emblemática do apagamento de que as mulheres são vítimas.
Luzia foi uma das figuras abordadas no podcast, ao lado de Clarissa Pinkola Estés, autora do best-seller “Mulheres que correm com lobos”, e de Sherazade, a musa inspiradora de “As mil e uma noites”.
PROGRAMAÇÃO
HOJE (5/10)
Das 19h às 22h. “Avoa amor”, apresentação de Joi Gonçalves. Mesa: Carmen San Marino, Nívea Sabino e Éle Fernandes, com mediação de Paula Libéria
SEXTA (6/10)
Das 19h às 22h. Apresentação de Chica Reis. Mesa: Isabel Miranda, Juliene Lellis e Carol Minaz de Minas, com mediação de Ana Martins
SÁBADO (7/10)
Das 19h às 22h. Apresentação de
Camila Costa. Mesa: Camila Costa, Nadja Calábria e Ana Caroline, com mediação de Bárbara Amaral e Aline Cântia
• Teatro da Cidade, Rua da Bahia, 1.341, Centro. Entrada franca, mediante retirada de ingressos meia hora antes de cada evento