Metade da vida de Arthur é o Fluminense. O garoto completou 18 anos em 2023 e está no clube desde os nove, onde é tratado como uma das principais joias tricolores. Na idade, esse seria o primeiro ano do garoto na categoria Sub-20, mas no caso do precoce meia a realidade é bem diferente. Arthur carrega a camisa 10 nas costas, a braçadeira de capitão no muque e o talento nos pés de quem sempre jogou com os mais velhos no Fluminense.
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Natural de Nova Friburgo, município da região serrana do Rio de Janeiro, Arthur hoje mora na Freguesia, bairro da Zona Oeste da capital fluminense. Inicialmente, fazia um bate e volta para a cidade treinando em Xerém, no futsal nas Laranjeiras, chegando em casa meia-noite para acordar às seis e ir para a escola no dia seguinte. A rotina foi ficando intensa, os treinos também, e Arthur precisou se mudar para Xerém depois de alguns anos. Foi quando deixou a casa com a mãe e o padrasto para morar perto do Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras.
Pouco tempo depois, passou a morar com outro colega de time, do mesmo ano, na Freguesia. A mãe, então, veio para o Rio fazer companhia a ele. O padrasto desce da serra todo fim de semana, já que tem uma loja em Friburgo.
Para Arthur, uma vida normal é uma vida de jogador de futebol. Sete anos depois do início da dedicação ao Fluminense, ele teve a primeira chance no time profissional, quando estreou aos 16 anos e foi o jogador mais novo a atuar com a camisa verde, branca e grená na história. Os apelidos de “príncipe” e “rei” Arthur dão ideia do tamanho do meia para o clube, que tem multa de 50 milhões de euros (R$ 266 milhões) para o futebol internacional.
No sub-20, em 2023, são 27 participações diretas em gols em 33 jogos: 13 gols e 14 assistências. A boa fase ajudou o time do Fluminense a chegar pela primeira vez na história a uma semifinal da Copa do Brasil da categoria, mas não foi o suficiente para fazer o time passar do Cruzeiro e chegar à decisão, apesar de um gol do camisa 10.
O período no último estágio antes dos profissionais chegou para o meia depois de um teste de fogo em que não foi tão bem no time principal. Arthur teve a primeira chance como titular no Campeonato Carioca de 2023, logo num clássico com o Vasco, mas acredita que faltou a ele na época a intensidade que aprendeu ser necessária e diferente nos jogos profissionais.
– Acho que foi um conjunto de tudo, a adrenalina também. Foi um jogo que apareceu do nada pra mim e não aconteceu da forma que nós esperávamos, mas foi um dia que ficou marcado em minha vida, independentemente do jogo que fiz, porque o professor Diniz confiou em mim, viu que eu tinha a condição de começar jogando com 17 anos e depois disso ele conversou comigo. Falou que as coisas eram assim mesmo, que tem vários jogadores que acontece isso também. Tive paciência e hoje estou tranquilo também, se tiver que aparecer outra oportunidade vai aparecer e estou me preparando para isso.
Como está na batida de jogador de futebol há nove anos, Arthur já se acostumou com entrevistas e as responsabilidades. A primeira matéria sobre ele no ge, por exemplo, foi em fevereiro de 2019, quando ele assinou o primeiro contrato de formação. Mas ainda bate aquela vergonha típica de adolescente quando tem que falar com alguém que não conhece.
– É maneiro, mas às vezes dá uma vergonha também. Você tá andando lá e alguém pede pra tirar uma foto contigo e todo mundo fica olhando pra saber quem é. Mas é maneiro, sim, é um trabalho reconhecido. De vez em quando você tá andando com a família, chega alguém, pergunta se é o Arthur, eu fico sem graça mas tiro foto. Mas é tranquilo, é maneirinho.
Acostumado com a cobrança no esporte desde pequeno, Arthur sabe que é isso que quer para a vida. Não passou por aquele medo do vestibular ou a dúvida sobre qual curso tentar na faculdade. Mas não é algo que esteja fora do horizonte. Ainda tem pela frente o sonho de se consolidar no Fluminense, voltar a estudar inglês, jogar na Europa e, depois disso, quem sabe, fazer educação física mais adiante.
Arthur já disputou oito jogos com o time de cima do Fluminense. O primeiro, em 2021, foi o do recorde, mas também jogou outras sete vezes nesta temporada, incluindo a partida com o Vasco. Mais experiente do que aos 16 anos, quando jogou pela primeira vez, e dos 17 que tinha ainda em fevereiro deste ano, o meia diz não ver tanta diferença física entre as duas categorias.
– Acho que o futebol profissional é bem parecido com o sub-20. A diferença são os espaços e a rotação. No profissional, a rotação é um pouquinho maior, mas dependendo dos jogos, tem até mais espaço do que no sub-20. Até pelo jeito que o Diniz joga, aproximando, fica mais fácil. Só que também tem a parte física, que às vezes pesa, mas às vezes não, porque jogo em uma categoria acima desde que cheguei, com 9 anos. É mais em relação à rotação mesmo. Depois que pega (o ritmo), vai embora, como o Alexsander, que hoje em dia está bem para caramba, fazendo grandes jogos e fico feliz por ele.
Por mais que ainda reveze entre time principal e Sub-20, logo no segundo ano tendo oportunidades no time de cima, Arthur pode ser campeão da Conmebol Libertadores. O garoto entrou no segundo tempo do jogo com The Strongest, na Bolívia, mas não conseguiu evitar a derrota. Ainda assim, aguarda ansiosamente, como todo tricolor, o dia 4 de novembro.
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Números que chamam a atenção
– É uma cobrança que vem. À medida em que as coisas vão acontecendo, as pessoas vão sempre esperar mais de você. Eu sou um cara que me cobro muito. Há um tempo atrás eu estava dando muita assistência e fazendo poucos gols. Vim me cobrando para finalizar de fora da área, chegar na área, para também ser o protagonista, fazer gols e também dar assistência. Esse ano está acontecendo essas coisas, estou entrando na área, chutando de fora da área e as coisas estão acontecendo naturalmente.
Estreia como titular e treinos com Diniz
– Foi uma experiência muito boa, eu tinha 17 anos ainda, não tinha completado 18. Ele tinha conversado comigo. Eu fiquei titular na semana, dois dias antes do jogo que eu fui para o time titular, porque o Ganso acabou se machucando. Essa experiência está sendo boa não só para mim, mas para todos os atletas também, porque de semana em semana eles (departamento profissional) chamam três, quatro jogadores para treinar lá.
– Acaba que vai ajudando a gente, ajudando eles também e o futebol profissional alinhado com o Sub-20 só vai aprimorando e ajudando, porque mostra que não só eu, mas todos os jogadores têm que ficar ligados a todo momento. Teve um jogo contra o Athletico-PR que foram oito ou nove relacionados da base, isso em cima da hora. Tinha gente que nem estava jogando que acabou sendo relacionada. Isso é bom para caramba, uma experiência incrível que vai ajudando a gente.
– É muito puxado (o treino). Com o Diniz, então, com esse sol aí, duas, três horas treinando. Você já foi lá? Que isso, não tem como (risos).
É puxado por causa da intensidade que cobra?
– Isso, por isso que ele pega bem pesado nos treinos em relação à rotação, entendeu? E foi um negócio que me ajudou bastante, que ajudou a subir a minha rotação quando eu fiquei lá e treinei.
– (…) A intensidade do Sub-20 está muito parecida com a do profissional. Porque como os moleques vão treinando lá, acaba que eles vão pegando uma rotina. E treinando lá, traz para cá e acaba que o treino fica parecido com o de lá. Fica uma intensidade maneira, um treino bom e ajuda bastante a gente nos jogos também.
E você consegue colocar isso em prática em Xerém?
– Sim. E um monte de gente fala que faz diferença quando vai treinar lá e depois desce pra treinar no Sub-20.
Como enxerga a oscilação? André e John Kennedy também passaram por esse processo de subir e descer.
– Eles falaram que aconteceu isso com eles também, que oscila. O John Kennedy há um ano estava aqui com a gente e hoje é titular absoluto do time, mas ele teve calma e o processo dele. E as coisas estão acontecendo pra ele, fico feliz.
Como lida com críticas e elogios
– Os torcedores mesmo sempre vão querer que os jogadores estejam bem e as pessoas só vão servir quando estiverem fazendo grandes jogos, gols… Se o Cano não estiver fazendo gol, você acha que vai servir? Não vai… Acho que é normal, do futebol, não acontece só comigo, acontece com várias pessoas. Se as pessoas estiverem jogando bem elas vão servir, mas se estiverem mal não vão servir mais. É do futebol. Não ligo tanto. Eu faço uma crítica a mim mesmo, vejo o que preciso melhorar, evoluir e vejo o que estou fazendo de bom também.
Quais são?
– Eu considerava que minha intensidade tinha que melhorar. Hoje eu estou conseguindo melhorar minha intensidade. É uma coisa que eu me cobrei e consegui colocar em prática. Por isso acho que as coisas estão acontecendo novamente.
Como é a rotina
– Fluminense foi praticamente a minha vida toda. Estou aqui direto. Quando eu e meus amigos treinamos na Barra (CT do Fluminense), ficamos dois meses lá, quando deu um mês e pouco a gente ficava com saudade de vir pra cá e treinar aqui. Não só por estar no Sub-20, porque a gente estava feliz treinando no profissional, mas a gente estava querendo voltar pra cá por causa do ambiente. O ambiente de Xerém é muito bom, ambiente de família e que a gente gosta de estar aqui. Porque daqui a pouco a gente não vai estar mais em Xerém e vamos sentir saudades.
O que acha do apelido “Rei” e “Príncipe” Arthur
– Foi um negócio que eu construí dentro do clube, então é total mérito meu. Não acho que é uma pressão não, muito pelo contrário. Eu criei um status aqui dentro e as pessoas acreditam em mim. A partir do momento que eu fiz isso, tenho que continuar fazendo para as pessoas continuarem acreditando em mim.
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