Em 2010, após regressar do doutorado na Universidade de Plymouth, no Reino Unido, o professor Guto Nóbrega fundou o Núcleo de Arte e Novos Organismos (Nano), ligado à Escola de Belas Artes (EBA). Desde então, em parceria com a docente Malu Fragoso, ele coordena o laboratório, que tem como foco trabalhar a hibridação de organismos naturais e artificiais no contexto da arte.
Com a produção de trabalhos de arte interativa, o núcleo fomenta a formação de novos artistas no campo de interseção entre arte, ciência, tecnologia e natureza por meio de bolsas de iniciação científica e de pós-graduação. Recentemente, uma das instalações artísticas produzidas pelo laboratório ganhou destaque em virtude da sua criatividade atrelada à tecnologia e sustentabilidade. A obra é um flutuante intitulado A~MARLab e lançado em 2024 durante o Simpósio Internacional de Pesquisa em Arte, Hibridação, Biotelemática e Transculturalidades, uma realização anual do Nano. Com o fomento recebido em 2023 pelo Projeto Especial do Parque Tecnológico da UFRJ, foi possível desenvolver a construção do projeto.
O propósito da obra, ao ser ativada na Baía de Guanabara, é a coleta de dados ambientais, como a qualidade da água, o PH, temperatura, coloração e condutividade, entre outros. Além disso, um dos destaques do projeto é a geração de energia limpa por um biorreator experimental que utiliza a água poluída da baía, rica em material orgânico, como recurso principal para gerar energia. A partir disso, é possível coletar dados oriundos da natureza para a criação de poéticas artísticas, como a produção de material audiovisual, por exemplo.
Atualmente vice-decano do Centro de Letras e Artes (CLA), Guto defende que o A~MARLab evidencia que é possível pensar em fontes alternativas para geração de energia limpa, e que as poéticas da criação artística podem ser uma fonte importante de conexão com a sustentabilidade e a tecnologia a partir da criatividade. “A principal contribuição deste projeto é mostrar de forma lúdica e transdisciplinar como a arte, em diálogo com a ciência e a tecnologia, ocupa um papel relevante enquanto processo de criação de novos paradigmas que nos auxiliam a enfrentar as circunstâncias deflagradas pelo antropoceno e outras crises”, explica o idealizador.
Para ele, o fato de o artista não estar limitado por questões econômicas lhe dá uma espécie de liberdade, em especial em um momento em que as questões sociais e de sustentabilidade mudaram a perspectiva de alguns fazedores de arte, aumentando a busca por outras experiências com a tecnologia e tornando o processo ainda mais criativo. Da mesma maneira, embora não seja o objetivo focar no biorreator ou na obra como produto gerador de energia, o vice-decano reconhece que a descoberta abre portas para que pesquisadores de tecnologia invistam em mais uma possibilidade de fonte sustentável. “Tudo que a gente faz gera potencialmente possibilidades que outros grupos veem com interesse. Não é nosso interesse fazer o produto, mas é uma possibilidade. Dentro do campo da tecnologia tem mil possibilidades”, defende.
A instalação artística é resultado da pesquisa “A~MARLab. Estação-Laboratório Marinha para Investigação em Arte Ambiental”, proposta do CLA. A versão lançada até o momento era uma proposta-piloto do flutuante. Neste momento, a equipe trabalha para a finalização do módulo flutuante a fim de lançá-lo na Baía de Guanabara no início de 2025.