Kaue, de Guapiara, sonha em ser jogador de futebol — Foto: Arquivo pessoal
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? A frase clichê e que está na música “uma partida de futebol” da banda Skank é a realidade de várias crianças brasileiras, entre elas Kaue Pietro, de 12 anos.
Apesar de um sonho inocente e comum, o menino viveu uma situação difícil quando era apenas um bebê. Sua mãe, a dona de casa Andreia Gonçalves, conta que com apenas 8 meses, Kaue sofreu um acidente de carro e perdeu parte da sua perna direita.
“Ele ficou na UTI. Tentaram reconstruir a parte do joelho dele, mas não teve como. Se continuasse com a perna, era perigoso a infecção subir para o corpo dele. Ficamos dois meses na UTI, depois ele foi para o quarto se recuperar e agora ele está participando de um time de futebol, que é o sonho dele”, conta Andreia.
Kaue não se abalou com a situação e vendo outras crianças jogar futebol na frente da sua casa, em Guapiara, no interior de São Paulo, decidiu o que vai ser quando crescer: jogador de futebol. Como todo menino sonhador, ele quer jogar no seu time de coração.
“Eu me imagino em um futuro brilhante. Tenho sonho de ser um jogador de futebol profissional, tomara que consiga realizar esse sonho. Sonho em jogar no Corinthians”, revela.
Kaue faz treinos específicos para acompanhar seus colegas na escola de futebol — Foto: Arquivo pessoal
Adaptação com a muleta
A adaptação para jogar o esporte não foi nada fácil. No começo, Kaue enfrentou dificuldades para conseguir se locomover no meio das partidas com as muletas.
“No começo sempre caia e me machucava, mas mesmo assim eu não desisti. Até andar de bicicleta eu sei. Às vezes, eu caia e ralava o braço, mas não desisti, mesma coisa no futebol. Com os meus amigos na frente de casa, sem querer eu chutei o chão e saiu o tampão do dedo, mas mesmo assim eu continuo jogando para não desacostumar”, conta.
No começo, o garoto usava duas muletas de alumínio para jogar, mas elas quebravam com o tempo. Após conseguir uma muleta de madeira, descobriu que poderia jogar bola e até correr se usasse só um objeto no lado direito para “substituir” a perna.
“Comecei a treinar correndo na frente de casa e fui apreendendo se mover mais rápido. Fui treinando várias vezes, nunca soltei a muleta, para mim, ela faz parte do meu corpo”, diz Kaue.
A determinação de Kaue chamou a atenção de João Felipe, treinador do garoto na Escola de Futebol Ouro na Serra, projeto teve início em maio deste ano. O professor deu um par novo de muletas de madeiras para o jovem jogador, que ele usa para fazer as atividades cotidianas.
“Alguns exercícios precisam ser feitos com menos intensidade, trabalhar no ritmo dele para ir aumentando a intensidade aos poucos, exercícios diferentes para trabalhar a coordenação motora também”, explica.
Kaue e o treinador João Felipe — Foto: Arquivo pessoal
Parte do time
Kaue treina todos os sábados, um ônibus vai buscar na porta da casa e leva para o campo. João Felipe destaca o esforço que o jovem jogador precisa fazer em todos os treinos.
“Ele é muito esforçado, gosta bastante de marcar, não gosta de perder. Por um lado, isso é muito bom, respeita e sempre procura fazer o que eu passo para ele durante os treinos”, elogia o treinador.
Com essas características, Kaue definiu a posição que mais gosta de atuar no campo: zagueiro.
O garoto se inspirou no defensor do Liverpool [Inglaterra] e da seleção da Holanda, Van Dijk, para escolher a sua posição. Apesar de não conseguir assistir aos jogos da Premier League [Liga de futebol da Inglaterra], Kaue conta que acompanha os lances pelas redes sociais.
“Gosto do jeito que ele [Van Dijk] corre, a habilidade de zaga e de driblar.”
Kaue gosta de jogar como zagueiro — Foto: Arquivo pessoal
Com pouco tempo de escolinha, Kaue já viajou para outra cidade para disputar um campeonato. Uma experiência que foi de altos e baixos. “Já disputei um campeonato em Parapuã Paulista. Foi legal, mas a única coisa ruim é que a gente perdeu”, explica.
Com as orientações do treinador, Kaue usa a tática de se antecipar o adversário e mandar a bola para longe ou passar para o companheiro mais próximo, assim, tenta evitar do time tomar gol.
“Quando vejo o jogador adversário, eu já tento me adiantar, antes que ele pegue a bola. É difícil, mas não paro de correr, porque já me acostumei”, comenta.
O treinador destaca que os colegas de Kaue ajudam uns aos outros da melhor forma, o que torna a relação com todas as crianças muito importante.
“Tenho alguns outros alunos com outras dificuldades e todos eles buscam ajudar da melhor forma, é muito importante para o desenvolvimento deles, a inclusão social”, explica.