Sigla da vez, a IA, ou inteligência artificial, tem na agropecuária um dos terrenos mais vastos de exploração. Os recursos tecnológicos, realidade há bastante tempo nas propriedades, encontram nova funcionalidade com a geração sem precedentes de dados. Na Expodireto Cotrijal, feira especializada em tecnologias para o setor em Não-Me-Toque, norte do RS, a inovação ganha nova abordagem com a IA.
Na área de máquinas, setor que chama atenção pela robustez dos veículos, a tecnologia nem sempre está visível aos olhos dos visitantes, mas traz muita pesquisa embarcada nos motores e sistemas automatizados. A Massey Ferguson, uma das gigantes do ramo, utiliza a IA no processo fabril e tem investido na inteligência para a aplicação dela na motorização com transmissões dos maquinários.
Lucas Zanetti, gerente de marketing e produto da Massey Ferguson, explica que o processo ajusta a força da máquina de acordo com o terreno, sem interferência do operador. Ou seja, processa a melhor rotação do motor de forma automática.
— A consequência é tornar a máquina cada vez mais autônoma, diminuir o consumo de combustível e a emissão de gases, além de reduzir o custo de manutenção — diz Zanetti.
A tecnologia está “escondida” no maior trator exibido no estande da marca na feira, o MF8S. Além do motor com recursos de IA, o equipamento tem outras inovações que priorizam o conforto da condução, como a cabine separada do motor, evitando ruído e calor ao profissional que a opera.

Mateus Bortoluzi Bisognin, 32 anos, produtor de soja e outros grãos no município gaúcho de Jaboticaba, aproveitou a visita à Expodireto para renovar a frota. Escolheu um modelo do MF8S a dedo, justamente pela tecnologia embarcada. O valor no mercado depende das especificações do motor, mas custa a partir de R$ 1 milhão.
— Hoje estamos muito dependentes disso, né? Dessa chamada agricultura de precisão. É isso o que a gente tem buscado para adquirir ela — diz Bisognin, já planejando utilizar a compra no próximo plantio.
De olho no alvo
Incrementar os implementos já em uso nas propriedades, aproveitando deles a sua melhor performance, é uma das funcionalidades buscadas a partir de sensores abastecidos por IA. Nesta linha, a pulverização seletiva desponta como uma das tecnologias mais buscadas pelos produtores.
Além de reduzir o uso de agroquímicos nas aplicações, o modelo de sensor desenvolvido pela PTx identifica o alvo onde aplicar, sinalizando o melhor momento de entrada do produto. A estrutura é comercializada no mercado em conjuntos que custam, em média, até R$ 38 mil o metro para cada barra que vai acoplada no pulverizador.
Marcos Araújo, gerente regional de soluções avançadas da PTx, que tem matriz nos Estados Unidos, explica que a inteligência artificial está na autocalibrarem do sensor. Ao mapear a área, o sensor reconhece padrões e entende onde precisa haver aplicação. A diferenciação se dá pelo contraste da cor, identificando o que é o verde do alvo e o que é o marrom do terreno.
— O sensor lê a área de cima para baixo, sem influência de fatores externos como falta de luz. Os dados armazenados podem ser salvos na nuvem, gerando mapas de calor indicando onde há maior problema e permitindo um acompanhamento safra a safra e um manejo mais eficiente das lavouras — diz Araújo.
Suporte na enchente
Com foco em monitoramento, gestão de riscos e crédito rural a partir da análise das lavouras via satélite, foi na enchente histórica de 2024 que a Sensorsat, uma empresa do município de Três de Maio, conseguiu auxiliar agricultores atingidos por meio de IA.
A utilidade prática da tecnologia auxiliou na perícia de áreas alagadas no Vale do Taquari. Foi a primeira empresa do Brasil a emitir laudos remotamente para o acionamento de seguros, relata o diretor da empresa, Jesildo de Lima.
— Nossa maior conquista foi ter conseguido prestar esse auxílio aos produtores atingidos daquela região. Foram 42 agricultores. É algo que emociona — diz.
A IA desenvolvida pela Sensorsat é alimentada por dados coletados a campo, por imagens diárias feitas por satélite e por dados climáticos como temperatura, índice pluviométrico e tipos de solos. Na plataforma, as informações são especificadas por culturas, dando um retrato completo daquele terreno.
Os dados têm papel de fiscalização e até função financeira. Nas seguradoras, as informações servem para embasar análise e liberação de crédito. Na questão ambiental, conseguem indicar se o local foi área protegida antes do uso e se se houve desmatamento. Em 2024, foram 5,5 milhões de hectares monitorados pela empresa no no Brasil.
— O dado gerado tem como finalidade a sustentabilidade do agro, ou seja, fazer mais com menos. Consigo ver pela imagem se num talhão houve plantio. Se o desenvolvimento da cultura ficou dentro dos padrões. E nisso identificar também o histórico da área, dado que é fundamental para exportação, por exemplo — diz o empreendedor.