Sócio da Brax explica o negócio da maior agência do futebol brasileiro: “Nós quebramos paradigmas e contrariamos muitos interesses”


A rápida ascensão da empresa causou críticas de concorrentes nos bastidores. Os valores que ela promete a clubes, federações e CBF são considerados agressivos. A quantidade de anunciantes oriunda do segmento de apostas gera dúvidas em relação ao risco assumido.

Um de seus três sócios, Bruno Rodrigues, recebeu o ge para uma entrevista de quase duas horas na sede da empresa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Nenhuma pergunta ficou sem resposta.

– Nós quebramos muitos paradigmas e contrariamos muitos interesses – afirmou.

A rara entrevista do empresário se divide em dois episódios do podcast Dinheiro em Jogo (clique aqui ou ouça no player abaixo). Os principais trechos também estão no texto a seguir.

ge: Como surgiu a Brax?

Bruno Rodrigues: — Todo mundo diz que somos uma empresa muito jovem, com uma ascensão meteórica. Mas tanto os meus sócios quanto eu já temos uma longa estrada no futebol. Meu primeiro negócio, a primeira vez que coloquei um cliente numa placa publicitária, foi em 2008. E nunca mais parei. Meus sócios, Antonio Carlos [Gonçalves Coelho] e Javier [Palmerola Fernandez], têm uma história muito parecida e militam no futebol até há mais tempo do que eu. Em 2021, a gente sentiu o vento da mudança no nosso ecossistema. Qual é a nossa ideia? Vamos nos unir, limpar o máximo de intermediários possível, e vamos criar uma operação que possa servir ao futebol, com ética, transparência e bastante apetite. A gente conhece muito da operação, com especialidade nessa área de publicidade de arena, e montamos a Brax.

Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez
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Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez

Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez

E o que a empresa faz?

— As empresas terceirizavam muito, e isso deixava um dinheiro enorme na mesa, depreciava o produto. Na parte de produção, é inconcebível você ter no Campeonato Brasileiro, dos 380 jogos, 70 com LED na beira do campo e o resto com placas estáticas. Era um modelo defasado, arcaico. Organizamos o departamento comercial e cuidamos do produto. A coisa começou a acontecer e naturalmente fomos ganhando espaço. A Brax é uma empresa extremamente afiada, sob todos os aspectos que o futebol hoje requer, do ponto de vista de exploração de publicidade de arena. Temos recursos humanos muito bem treinados, que conhecem muito dessa operação. É uma empresa vertical. Não há um único setor que a Brax terceirize.

Você sempre diz que opera com margens de lucro menores do que outras empresas. Como é isso?

— Não nos enxergamos como donos do negócio. A Brax é uma ferramenta comercial e operacional. Quando sento para negociar com clube, federação ou CBF, o nosso objetivo é servir ao futebol, maximizar os ganhos deles e obviamente ter o nosso percentual. Eu não estou aqui para maximizar o meu lucro. Porque seria muito fácil, vocês conhecem a situação, os clubes sempre precisando de dinheiro de hoje para amanhã, usar isso para maximizar a rentabilidade. É um caminho que algumas empresas seguem. Não é o nosso caso.

Quando você fala em “pegar o nosso percentual”, está falando de qual porcentagem?

— A gente tem que se resguardar um pouco, até pelo volume de direitos que a gente conseguiu. Em 2022, primeiro ano da Brax, praticamente não tiramos resultado da empresa. Nós reinvestimos tudo, porque o nosso espírito é de startup. Neste ano novamente topamos alguns desafios interessantes. O que a Brax entende como uma estratégia inteligente de ocupação do mercado? A centralização dos direitos nos dá uma capacidade comercial muito grande. Quando você junta na mesma empresa os direitos da Série A, da Série B, da Copa do Brasil e dos principais estaduais, isso dá uma força de negociação muito grande. Cada entidade tem a sua remuneração, cada projeto tem sua contrapartida financeira, mas o que interessa para a Brax é o seguinte: o todo tem que estar coberto.

A Brax garante um mínimo ao clube, federação ou CBF e precisa cobrir este valor com publicidades. O risco assumido pela Brax não é muito alto?

— É curioso quando você fala: “Você assume um risco de X milhões”. Esse é um modelo desenvolvido e consagrado no mercado brasileiro há muitos anos. A Brax não saca X milhões do banco, faz o pagamento à entidade e vai ao mercado tentar vender. Isso é um mito que foi criado. É importante o risco ser assumido formalmente para dar conforto e segurança para as entidades esportivas. Mas o que importa é a competência para executar o plano de negócios. Eu olho uma competição, faço isso há 15 anos, e entendo o potencial dessa competição. Eu tenho uma carteira de 70 marcas que anunciam comigo. A gente entende qual marca tem apetite para comprar o quê, qual é o preço daquela propriedade. Depois de avaliar o risco, a gente vai ao mercado e faz as aquisições de direitos.

Pode dar um exemplo?

— Obviamente resguardando os números: Copa do Brasil. Eu opero desde 2009, quando o Corinthians foi para a final com o Ronaldo Fenômeno. Eu conhecia a competição de trás para a frente, conhecia o potencial. Eu avalio, sei que implementando a minha metodologia, que é LED em todos os jogos, descartar os intermediários, ter uma operação mais enxuta, isso tem um potencial X. Aí eu vou até a CBF e faço o investimento. Claro que, quando eu faço o investimento, não está tudo contratado, mas 70% do caminho já está percorrido. O mito do risco exagerado não conversa com a realidade. A gente entende o apetite de cada marca que está conosco hoje. Mas as entidades esportivas naturalmente pedem o mínimo garantido. E eventualmente acontece de uma competição não performar, não atingir o custo. Mas aquele risco de R$ 100 milhões, isso inexiste. Se eu for muito incompetente, vou perder 10% de algum negócio. O risco fica nessa casa, plausível de acomodar.

É o caso do Carioca?

— Já falei abertamente do Carioca deste ano. A gente sabia que não iria fechar. O nosso objetivo era atingir um número X e atingimos. A gente já sabia que iria acontecer e estávamos preparados para acomodar o prejuízo. Que não é prejuízo, é investimento. E a vida segue normal. Essa questão do risco, as pessoas, os concorrentes, acabam mistificando um pouco, quando é uma coisa muito natural para a gente. Não pode fazer irresponsabilidade. E tem uma coisa da qual eu me orgulho, e que é uma obrigação nossa: a Brax nunca atrasou um único pagamento. Nós estamos adimplentes em todos os contratos que a gente firmou no futebol. A avaliação de risco da empresa é afiada. Mas tem essa mística de que a gente corre muito risco. A gente vive de credibilidade.

Na Série B deste ano, a CBF fez uma concorrência que conseguiria arrecadar algo entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões pelos direitos de transmissão. Vocês prometeram um mínimo de R$ 210 milhões, que cresce a cada ano, até 2026. Por pagar tanto acima do valor de mercado?

— Não quero ofender ninguém, criar nenhum tipo de animosidade com ninguém. Essa concorrência, se os números forem esses mesmos citados pela imprensa especializada, é inadmissível. Uma competição que entrega 380 jogos, gerar R$ 80 milhões… Eu te afirmo que não há nenhum fundamento para que a Série B valha só isso. A CBF acabou invalidando essa concorrência, porque seria um valor catastrófico para a Série B. Eu não quero fazer juízo de valor sobre ninguém aqui. Mas eu, como profissional de mercado, não vou me convencer que uma competição como essa valha R$ 80 milhões.

Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez
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Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez

Bruno Rodrigues, sócio-diretor da Brax — Foto: Martín Fernandez

— Dito isso, existe uma diferença brutal na forma que a Brax trabalha. A IMG, que conduziu essa negociação, faz uma curadoria. Ela vai aos grupos de mídia e ouve de cada um: “olha, eu acho que consigo pagar 10 e tirar 20, pagar 50 e tirar 60”. Esse modelo funciona muito bem na Libertadores, na Liga dos Campeões. Na Série B, não entregou nem perto do valor que efetivamente a competição pode gerar. E aí entra a Brax. No caso da Série B, qual foi a nossa visão? Primeiro: se eu consigo, dentro de um plano de negócios exequível, transformar esse produto, a nossa empresa vai ganhar uma projeção, uma visibilidade, uma relevância importante para nós. E aí vem a questão do valor que é pago. Eu não posso abrir os números, mas a Brax é uma empresa com um faturamento de publicidade extremamente expressivo.

A Série B dá lucro para a Brax?

— Não. Série B é o mesmo espírito do Campeonato Carioca. Foi uma porta de entrada. A gente praticamente chegou no nosso objetivo, mas teve alguns percalços no caminho.

Até o fim do contrato vai dar lucro?

— Sem dúvida. Já no ano que vem, a gente vai mudar a realidade. A gente pegou os direitos com pouco tempo para a competição começar. Isso nos deu pouca margem de negociação. Temos agora cinco, seis meses até o começo da competição. A negociação vai ser completamente diferente. Vamos reformular o produto e minimizar os percalços do primeiro ano. Principalmente por parte dos clubes, que demoraram um pouco a entender que formato é esse, que é um bicho novo. “Ah, como é que você vai botar um concorrente do meu patrocinador na minha camisa?”. Isso acontece na Europa desde que o mundo é mundo. Eles ficaram felizes com o acordo, mas ficaram desconfortáveis com as contrapartidas que a gente exigiu. Mas é normal, é do jogo, e a gente vai acomodando.

Vários dos anunciantes da Brax vêm do segmento de apostas. Qual a relação da empresa com eles?

— A relação é exatamente igual à da Globo, da Band, do SBT, do Flamengo, da Livemode, de quem quer que seja. São nossos clientes. O que é curioso nessa relação é que a Brax teve uma visão privilegiada do que aconteceria nesse mercado. Eu sei porque, no outro ciclo, implementei o patrocínio da Sportsbet.io. Existia aí um consenso que o anunciante bet era só mais um, como qualquer outro. E nós tivemos a capacidade de cativar alguns clientes importantes desse meio, entender um pouco melhor esse mercado, e a primeira resolução que a gente tomou foi: “acabou a exclusividade”. Com exceção de Copa do Mundo e Libertadores, a regra de LaLiga, Bundesliga e Premier League é ver três ou quatro marcas convivendo ali.

As marcas não pedem exclusividade? Elas gostam desse modelo?

— Não faz sentido [a exclusividade] por um motivo simples. Isso é uma questão de oferta e procura. Eu acho impagável, seja para quem for, a exclusividade. Você vai renunciar a muita receita se oferecer exclusividade. É inviável economicamente. De fato, a convivência harmoniosa entre empresas desse segmento é muito vantajosa para o futebol. Obviamente, uma Libertadores consegue gerar valor a ponto de entregar exclusividade. É uma opção da Conmebol. Mas eu posso afirmar sem nenhuma dúvida que ela incrementa substancialmente se abrir mão. Copa do Mundo? Vou dar exclusividade, porque esteticamente faz mais sentido. Agora, as ligas nacionais, o Brasileiro, a Copa do Brasil, você rejeitar essa receita é uma insanidade. E isso não muda mais. É impossível você conter o volume de investimento que essa turma está colocando no futebol, em troca de uma estética mais bonita.

Qual vai ser o impacto da regulamentação do setor de apostas no mercado de vocês?

— Pode ser que as empresas menores tenham muita dificuldade, mas tem muita gente relevante esperando um mercado mais estável, mais previsível, para chegar ao mercado brasileiro. Que é um dos três, quatro maiores do mundo. Vai estabilizar. Acho que não vai ter um grande ganho.

Não corre o risco de diminuir?

— Eu não vejo nenhuma possibilidade. É um mercado muito concorrido, muito proeminente, com muita gente competente. É uma nova fonte de renda do futebol que chegou para ficar. Esse tema tem que ser tratado com muito zelo. Obviamente tem que ser regulamentado, mas é uma linha de receita importantíssima. Se não houver nenhuma interferência, nenhuma deliberação que prejudique essa situação, eles serão importantíssimos para o mercado brasileiro.

Página de apresentação da Brax sobre amistoso entre Brasil e Marrocos — Foto: Reprodução
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Página de apresentação da Brax sobre amistoso entre Brasil e Marrocos — Foto: Reprodução

Página de apresentação da Brax sobre amistoso entre Brasil e Marrocos — Foto: Reprodução

Tivemos acesso a um material produzido pela Brax, com informações sobre a empresa, no qual está demonstrado o resultado que vocês tiveram com o amistoso Brasil x Marrocos. Quase não houve receita com a venda dos direitos de transmissão, e entre patrocinadores há muitas casas de apostas. Não existe um risco de ter a regulamentação e várias dessas empresas quebrarem?

— Dependente ninguém é, especificamente, das casas de apostas. Acho muito pouco provável que haja uma mudança drástica, contundente, em relação à presença delas. Se houver uma mudança de regulamentação, uma proibição de anunciar, aí vai ter um impacto. Mas é um risco calculado, e a Brax tem caminhos para seguir viagem. Agora, sem falsa modéstia, talvez a gente seja a empresa que tem a relação mais clara e o entendimento melhor desse segmento, da forma como funcionam, da forma como pretendem e enxergam a operação no médio e longo prazo. E isso é uma aposta que você tem que fazer. Tem que seguir um caminho. Os contratos mais sofisticados a gente se resguarda, os clubes sabem disso, as entidades sabem disso.

— Com tudo que a gente está observando, com os movimentos internacionais que estamos acompanhando, seria uma perda de oportunidade se a Brax se retraísse e ouvisse esse pessimismo. O mercado tem que ter maturidade para avaliar e entender o seguinte: tem que ser regulamentado, mas não se pode abrir mão de uma oportunidade sem precedente de investimento no nosso mercado. Mudar essa realidade hoje seria um impacto não na Brax, mas em todo o ecossistema do futebol. Seria uma situação muito esdrúxula se o país do futebol matasse a segunda ou terceira fonte de receita dos clubes de futebol no curto e no médio prazo. É nisso que a Brax acredita.

Na CPI da Manipulação de Resultados, na qual você foi chamado para dar depoimento, um deputado perguntou sobre o Alexandre Fonseca. Ele foi diretor-geral da Betano no Brasil. Qual a relação com ele?

— Alexandre é um cara brilhante. De toda a minha caminhada no mercado de futebol, talvez seja o grande executivo que eu encontrei em termos de qualificação. Agressivo, cativante, bom de negócio. O início dessa relação se dá pela parceria da Brax com a Betano, com interesses em comum. A Betano como cliente da Brax tem interesse que a Brax conquiste espaço dentro do contexto de direitos comerciais no futebol brasileiro. Assim começou. Entretanto, surgiu uma amizade muito boa, uma aproximação muito grande, uma afinidade enorme de valores, visão, negócio, e o Alexandre começou a nos dar suporte em algumas negociações. Ele foi o cara responsável por contribuir na consolidação do plano de negócios da Brax com o segmento. Ou seja, era um defensor de que a exclusividade não fazia bem para o mercado brasileiro. Ele é uma referência, ele colocou a Betano na liderança. E foi natural essa aproximação.

Você disse na CPI que ele chegou a receber comissões por serviços prestados para a Brax.

— Sem prejuízo para a nossa relação com a Betano. Estive agora na Grécia na semana passada, fui visitar a sede da Betano, é impressionante, tem um ar de Apple. Ele começou a contribuir com a elaboração de plano de negócios, a ser a interface com algumas marcas que tinham interesse em conversar conosco, e isso se deu de forma natural. Vou preservar os nomes. Todos os nossos concorrentes foram atrás do Alexandre para tentar contratá-lo. Você pode me perguntar se não há algum conflito na relação Alexandre-Betano, Alexandre-Brax. E a resposta é a seguinte: a Betano é líder de mercado. Foi benéfica para todo mundo essa relação. Foi benéfica para a Brax, que encontrou um grande parceiro comercial. Foi benéfica para a Betano, que conseguiu um protagonismo enorme durante a gestão do Alexandre — que agora saiu, pediu demissão. As pessoas querem escandalizar algo que é simples.

Hoje ele trabalha na Brax?

— Não. Ele presta consultoria na concepção de alguns negócios. Hoje menos, ele está prestes a assumir uma nova empresa, a Superbet, uma empresa que tem uma liderança grande no leste europeu. Ele está assumindo essa operação numa relação totalmente transparente.

A Brax comprou a transmissão da Série B até 2026 e as placas da Série A, de alguns clubes. São territórios da liga. Qual é a posição de vocês sobre essa história?

— É muito importante organizar em ordem cronológica. Surgiu a informação que os clubes queriam organizar uma liga. A Brax tinha comprado alguns direitos, Série B, Série A, aquela coisa toda. Estava caminhando tudo certo. Eu sempre disse aos clubes o seguinte: “Nós jamais vamos interferir na concepção de uma liga”. Porque é nisso que a gente acredita. A gente entende que é o caminho saudável, importante, eu diria inevitável para o futebol brasileiro. Ponto. Qual era nosso ponto de vista? Nós temos alguns contratos vigentes, estes contratos nos asseguram direito de preferência para renovar. A gente vai aguardar. Se amanhã ou depois os clubes, os investidores e a CBF chegarem a um entendimento de que deve negociar com uma liga, assim nós faremos. Vamos sentar, conversar. Obviamente observando as questões jurídicas. Mas o que ocorre é o seguinte: a liga não aconteceu. E acho que no curto prazo não vai acontecer.

Botafogo x Cruzeiro. Ambos os clubes venderam direitos de placas de 2025 em diante para a Brax — Foto: Gilson Lobo/AGIF
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Botafogo x Cruzeiro. Ambos os clubes venderam direitos de placas de 2025 em diante para a Brax — Foto: Gilson Lobo/AGIF

Botafogo x Cruzeiro. Ambos os clubes venderam direitos de placas de 2025 em diante para a Brax — Foto: Gilson Lobo/AGIF

— Isso escalou para outra realidade, completamente diferente. Você tem hoje apenas e tão somente investidores buscando a aquisição de direitos comerciais. Aquele espírito de unidade, de revolucionar o futebol brasileiro, foi dando lugar a contratos que vão beneficiar X, Y e Z. E aí, quando o papo sai do âmbito da concepção da liga e entra para uma relação comercial, a gente levanta a mão e fala: “Um minutinho, espera aí”. Eu estou aqui parado, aguardando, respeitosamente, torcendo para o bom entendimento dos clubes, para que se faça uma liga. Mas o que eu estou vendo hoje não é mais isso. Tanto é que você já está vendo hoje investidores colocando projetos de investimento no mercado, falando de propriedades. Tem agências hoje que já se dizem no mercado — desrespeitando frontalmente os nossos contratos — detentores de certos direitos do ciclo 2025 em diante.

Você se refere aos investidores do Forte Futebol.

— Saiu do âmbito de uma liga e virou uma negociação meramente comercial de exploração dos direitos dos clubes. Então, a Brax sentiu-se no direito de avançar em direção a seus clientes. Ficamos até um pouco incomodados, porque isso antecipou uma conversa que deveria ter sido feita do meio para o final do ano que vem, e começamos a negociar individualmente com os clubes. E aí, meu amigo, a Brax na posição em que está hoje, não pode não se apresentar como postulante a esses direitos. Minha empresa tem uma atuação importante nesse segmento, e na hora de soprar a velinha vem outro e diz “me dá esse direito aqui” sob a pretensão de uma liga, e vai tomar os direitos da Brax. Vai ser uma briga boa, no bom sentido. Eu respeito todos os players do mercado.

Com quais clubes vocês já fecharam?

— Cito Botafogo, Cruzeiro, Santos e Vasco. Fechamos mais três, que estão minutando com a gente, clubes relevantes. E vamos continuar trabalhando. Nós não somos anti-liga. Nós somos uma empresa que estava observando com parcimônia a criação de uma liga, que de repente escalou para pura e simplesmente uma operação comercial, compra de direitos. Aí, meu amigo, com tudo que a gente fez no futebol até hoje, com o volume de investimento que a gente fez… Só no primeiro pagamento que fiz ao Botafogo e ao Cruzeiro, ele equivale a dez anos do valor do contrato anterior. Então eu trago benefício ao futebol, e me tiram do negócio? Sem eu nem tentar? Sob o pretexto de que eu tenho que esperar uma liga se formar? Não. Quando a liga se formar, eu vou ser o primeiro a estar à disposição para contribuir.

É um objetivo comprar os direitos dessa liga?

— Sim, natural. Para mim, não importa se o direito pertence à CBF, a um investidor, ao clube. A relação hoje é impessoal. Hoje há uma competitividade, uma avaliação técnica das propostas. Agora, o que não pode é o seguinte: no meio da execução do meu contrato, não pode, não deve. Entendemos como um caminho equivocado. Simplesmente hoje, 2023, tem uma agência dizendo ao mercado que ela tem o direito de vender alguns direitos a partir de 2025. Vem cá, e a preferência? E o contrato vigente? E os investimentos? Isso a gente não considera uma coisa saudável para o futebol. Repito: cada um pode seguir seu caminho. Mas a Brax vai se apresentar como postulante a esses direitos, por motivos óbvios.

Vocês também querem comprar direitos de transmissão?

— A princípio, não. A Série A, sendo muito franco… Não estou rasgando seda. Quando o assunto é Série A, Copa do Brasil, o destino óbvio é a Globo. Porque o que está em jogo não é só o valor do contrato, é a percepção de valor do produto como um todo. Todo o ecossistema de patrocínios. É um negócio muito mais amplo. Nós não vamos ficar confortáveis de entrar numa seara como essa. Acho que nem cabe.

Nem no formato que vocês fizeram com a Série B? Existe uma veiculação na Bandeirantes, para gerar a grade de programação, e a busca por patrocinadores, para fechar essa conta.

— A Série B é completamente diferente. Não sei se posso falar em desinvestimento. Mas a Globo mudou um pouco a avaliação dela, e o futebol não sobreviveria com o valor que a Globo e os demais players apresentaram para a Série B. Como solução, seria incompatível com o tamanho da competição. Então, a gente se apresentou e deu continuidade. No caso da Série A, eu acho que seria completamente diferente. Eu não vejo a Brax participando dos direitos de transmissão [da Série A]. Claro, se formos chamados a ajudar, estamos à disposição. Mas o espírito da empresa não é esse.

Quanto às placas publicitárias de beira de campo, os clubes do Forte Futebol não fecharam com vocês. Eles continuaram com a Livemode e com os investidores do bloco, que contam com as placas no pacote comercial. Depois de tantas vitórias, esta é a primeira derrota da Brax?

— A gente está muito escaldado neste mercado, procuro evitar citar concorrentes, mas tem um momento em que o papo afunila e a gente tem que falar o português claro. Estou neste mercado há muitos anos. E se tem uma coisa que não me preocupa são derrotas e vitórias. Eu aprendi com o meu pai, que é um cara muito sábio. “Você ganhou, comemora. Perdeu, segue viagem de forma tranquila e serena.” Não houve derrota nenhuma, porque eu tenho um contrato vigente. Tenho muito respeito pela Livemode, discordo um pouquinho da forma como ela age nos bastidores, em algumas disputas comerciais. Mas faz parte do jogo, cada um tem o seu perfil. Eu tenho um contrato vigente. Esse contrato envolve os clubes e a CBF. Os clubes reconhecem neste contrato a relevância da CBF, especificamente nos direitos comerciais, e esse contrato me dá uma preferência. Eu tenho muito respeito pelos clubes do Forte Futebol, eles sabem o que nós fizemos juntos. E eu já ouvi deles: “Bruno, a sua preferência vai ser respeitada”.

Mário Bittencourt, presidente do Fluminense — Foto: Marcelo Gonçalves / Fluminense FC
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Mário Bittencourt, presidente do Fluminense — Foto: Marcelo Gonçalves / Fluminense FC

Mário Bittencourt, presidente do Fluminense — Foto: Marcelo Gonçalves / Fluminense FC

— Está se fazendo propositalmente uma confusão entre vender os direitos para um investidor e firmar um contrato para exploração comercial desses direitos. E isso não sou eu que estou dizendo, não. O próprio presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, me disse isso com todas as letras numa reunião. “Bruno, são assuntos distintos. nós estamos buscando um investidor, que vai ter um percentual da lucratividade oriunda desse direito. Não só desse direito, mas também do direito de transmissão. Entretanto, nenhuma agência ainda foi eleita para administrar esses direitos”. Eles reconhecem o que nós fizemos pelo futebol, o quanto contribuímos para que o contrato chegasse ao patamar em que está hoje. E nós temos convicção, certeza absoluta, pela seriedade das pessoas envolvidas, nos processos, que o contrato será respeitado. Se chegar lá na frente, na hora de executar, e a Livemode fizer uma oferta por esses direitos, se for eventualmente superior à oferta que a Brax vai colocar na mesa, o mundo vai continuar igual. Eu não sou muito apegado, o mercado é muito grande. A única coisa importante, para deixar claro, é que os nossos clientes têm sido abordados ostensivamente e permanentemente com uma informação que, a meu juízo, está equivocada. E posso estar enganado, mas a gente fez algumas consultas à CBF, e a CBF não tem o mínimo conhecimento, nem formal, nem informal, sobre esse acordo.

Quando você fala em direito de preferência, o que é? Poder igualar um valor maior? Ter o direito de fazer a última oferta?

—Na verdade, entrar no detalhe do contrato é muito complicado. A gente nem gostaria de estar falando, mas está se criando tanta confusão, e isso gera uma insegurança na nossa operação, insegurança nos nossos patrocinadores. Há uma insegurança tão grande que fica difícil não falar. Repito: no final do dia, vai prevalecer a vontade dos clubes. Eles vão entender o caminho deles, e a gente vai estar aqui seja qual for a circunstância. Nós não estamos aqui para criar polêmica, para criar problema. Só não gostaríamos, no meio desse processo todo, porque obviamente a gente tem as nossas aspirações comerciais, que fosse sentenciado “a Brax perdeu tais direitos”. Porque, no nosso entendimento, isso não aconteceu.

Soubemos por interlocutores na Europa que a Brax foi ao mercado procurar um comprador para a própria empresa. Vocês estão buscando sócios?

— A Brax não está à venda. A nossa empresa é uma operação jovem, apesar de seus sócios terem muito tempo de mercado. A gente entra com muita contundência, entrega um resultado extraordinário para o mercado nacional. E aí meus sócios e eu começamos a debater a seguinte questão: e agora? Nós temos necessidade? Nós somos alavancados exclusivamente pelo nosso trabalho, e precisamos dar outros passos, para podermos crescer, nos desenvolver, e começamos a pensar em alternativas. Isso foi no ano passado, e um ano aqui na Brax equivale a dez anos. Então decidimos conversar não com investidores e fundos, mas com quem é o ramo, grandes agências do mercado internacional. Nós temos grandes ativos aqui no mercado brasileiro, e se houver parceiros estratégicos, que contribuam para a evolução da Brax, nada impede a gente de conversar e evoluir para uma sociedade. Uma coisa importante: a gente nunca venderia a Brax para sair da operação. A nossa ideia, à época, que não se sustenta mais hoje, era ter parceiros para trazer ainda mais credibilidade, uma visão global para o nosso mercado, agregar parceiros estratégicos, novos clientes, novas mentalidades. Então essa era a ideia.

Esse plano ainda existe?

— As negociações foram para caminhos que nós entendemos como não muito satisfatórios. Nós também arregimentamos novos direitos, o que impacta no valuation da empresa, e também é um negócio muito dinâmico, muito rápido. Fica difícil você conectar o papo com o eventual sócio. Mas a coisa foi acontecendo com tanta velocidade, que a gente foi encontrando dificuldade até de dar o próximo passo. Hoje acabou que o assunto esfriou um pouco, a dinâmica é completamente outra. O que era a Brax, quando a gente decidiu fazer esse roadshow e buscar alguns parceiros estratégicos, era uma realidade. Hoje é completamente diferente. E a gente tem ainda uma conversa com uma empresa especificamente, com quem a gente vem trocando ideia sobre possibilidades. Nos encanta ter um parceiro global no futebol brasileiro, colaborando com expertise, com um visão muito mais ampla do que a nossa, que é muito focada no mercado brasileiro e um pouquinho sul-americana. São conversas.

Hoje o torcedor já entende sobre venda de controle, mais de 51%, ou participações minoritárias, por causa das SAFs. Qual era a ideia de vocês? Vender 100%, 50%…?

— A gente teve conversas, mas a nossa intenção nunca foi entregar a Brax para ninguém. Isso aqui é a nossa vida. Aqui, sem fazer nenhum tipo de drama, enfrentar o que a gente enfrentou… Eu, dois sócios e um time muito fechado com a gente, é muito difícil. Nós quebramos muitos paradigmas, contrariamos muitos interesses comerciais. A gente rompeu com o status quo do futebol, e isso tem um preço muito caro para pagar. Tem questões estratégicas, jurídicas, em que você ter um parceiro um pouco mais sofisticado contribui. Porque carregar esse bonde nas costas, que hoje é a Brax, não é um negócio simples. Às vezes tem questões pessoais pesadas, sem fazer drama, sem exagerar. Eu não ando mais na rua como eu andava antigamente, porque é um jogo complexo. Então para nós seria importante ter um parceiro global, estratégico, para diluir um pouco essa responsabilidade.

A Brax participa de discussões sobre calendário ou formato de torneios? Vocês se preocupam quando um gramado está em péssimo estado, por exemplo?

— Hoje, formalmente, não temos nenhum papel. Temos alguma preocupação, porque pode impactar na percepção de valor. Não temos nenhuma ingerência e nem teremos. Vamos nos colocar à disposição para contribuir com essa melhora. A gente tem que sair da posição passiva e contribuir. Obviamente, desde que sejamos convidados a participar.

Bruno Rodrigues, sócio da Brax, em sessão de CPI na Câmara dos Deputados — Foto: Reprodução
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Bruno Rodrigues, sócio da Brax, em sessão de CPI na Câmara dos Deputados — Foto: Reprodução

Bruno Rodrigues, sócio da Brax, em sessão de CPI na Câmara dos Deputados — Foto: Reprodução

No seu depoimento à CPI, ficou evidente que havia alguns deputados brifados para atacar a Brax e a CBF, alguns para defender. Como é a relação da Brax com a CBF? E como foi participar da CPI?

— As pessoas idealizam a nossa relação com a CBF, o que mostra quão estigmatizado está o nosso mercado. O presidente Ednaldo [Rodrigues], uma pessoa por quem tenho profundo respeito, é um cara muito fechado, que nem dá espaço para relações pessoais muito próximas. A CBF é muito severa nas negociações, vide o que ele conseguiu fazer na valorização de todos os ativos da entidade. A Série A não foi negociada com a CBF, foi com os clubes. A Série B foi aquela situação. E a Copa do Brasil foi uma concorrência brutal. Meses de negociação. As pessoas tentam criar essa proximidade excessiva, mas ela não existe. Sobre a CPI, eu vejo com muita naturalidade. Claro que não é totalmente confortável ir lá, sentar, explicar, mas uma empresa que está nesse mercado deve esclarecimentos. A gente pegou a tempestade perfeita. Respeito todos os nossos concorrentes. Klefer, Livemode, Sport Promotion, todas tiveram seu momento, mas se encontraram com alguma dificuldade. E quis o destino que fosse simultaneamente. Quis o destino que cada um tivesse seu percalço e isso abriu espaço para uma nova operação. E assim foi feito. As pessoas querem mistificar. E por isso é importante a gente explicar.


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