‘Starfield’ é lançado nesta terça sem alcançar as próprias expectativas impossíveis; g1 jogou


“Starfield”, dos criadores de clássicos como a série “Fallout” e “The Elder Scrolls: Skyrim”, é o mais novo game a provar que não dá para confiar em jogos que prometem demais.

Lançado às 21h desta terça-feira (5) para o público geral em Xbox Series X/S e computadores (compradores da versão premium jogam desde sexta-feira (1º), o RPG espacial se junta à lista de vítimas das expectativas impossíveis geradas por elas mesmas – como “No Man’s Sky”, em 2016, e “Cyberpunk 2077”, em 2020.

Como um dos games mais aguardados dos últimos anos, “Starfield” é uma decepção inevitável, por mais que esteja a anos-luz de ser ruim.

Como um jogo de exploração galáctica na qual o público pode viver diferentes tipos de aventuras com relativa liberdade, chega até a ser muito bom.

Há espaço e opções de sobra para que jogadores escolham seus tipos de desafios preferidos, de troca de tiros com piratas e batalhas espaciais a construção de bases de pesquisa e o registro de novas espécies animais. Quase como se cada um encontrasse nele um subgênero diferente.

Mesmo assim, centenas de missões repetitivas provam que quantidade nem sempre é qualidade, e viagens rápidas e telas de carregamento sem fim fazem com este universo pareça menor que os mundos dos grandes sucessos da Bethesda – publicadora do game comprada pela Microsoft em 2021.

Assista ao trailer de 'Starfield'

Assista ao trailer de ‘Starfield’

Muito a fazer, muito parecido

Em “Starfield”, depois de criar seu personagem, o jogador é convocado por um grupo de exploradores espaciais para encontrar artefatos misteriosos espalhados pela galáxia.

Entre um planeta e outro, o protagonista pode escolher entre diferentes facções rivais, viver a vida como um mercenário ou um soldado, ou até se dedicar mais a pesquisa e diplomacia.

A campanha, no fim, serve mais como um guia/tutorial para dar ao público o primeiro contato com a variedade de experiências disponíveis.

Aqueles com espírito mais rebelde ou aventureiro, no entanto, logo tomarão desvios – e se verão inevitavelmente perdidos entre mecânicas que nunca sequer foram mencionadas.

Em um primeiro contato, pode ser avassalador. Especialmente se, ao andar em novos povoados, a lista de objetivos não para de crescer só de ouvir conversas aleatórias de personagens desconhecidos.

Tantas missões dão a impressão de atividades sem fim. Infelizmente, em sua maioria elas são repetitivas e sem profundidade. Em uma delas, o protagonista deve se tornar o secretário de um chefe corrupto para ajudar mineradores explorados em Marte.

Para conseguir o trabalho, no entanto, deve subir em sua nave, ir até um satélite em órbita, deixar sua nave, entrar no satélite, encontrar um computador, preencher um formulário que não parece ter muita importância, retornar à nave e então voltar a falar com o minerador marciano com quem falava imediatamente antes de todo esse processo.

Não há internet no universo de “Starfield”. Mas piora.

'Starfield' — Foto: Divulgação
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‘Starfield’ — Foto: Divulgação

‘Starfield’ — Foto: Divulgação

Minha nave por um carro, uma moto, qualquer coisa

Não há também carros ou sequer a possibilidade de voar sua nave na atmosfera de planetas.

Em “Starfield”, para dominar o cosmos, aparentemente a humanidade precisou esquecer a existência do automóvel ou das lições de Santos Dumont.

Tudo isso quer dizer que a liberdade prometida pelos desenvolvedores antes do lançamento na verdade está presa intimamente a viagens rápidas entre planetas, já que os jogadores não podem pilotar livremente de um destino a outro, ou passeios longos (e lentos) a pé do local de pouso até a missão ativa naquele momento.

Para piorar, poucos são os prédios ou até mesmo andares que podem ser acessados sem uma tela de carregamento.

Elas não demoram, é verdade, mas tanta pausa entre ações normalmente contínuas fazem com que este universo seja menor que a província de Skyrim, do sexto “The Elder Scrolls” – e olha que dava para montar um cavalo por lá.

'Starfield' — Foto: Divulgação
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‘Starfield’ — Foto: Divulgação

‘Starfield’ — Foto: Divulgação

Espaço para crescer

“Starfield” não é só problemas. Superados os defeitos esperados em games da Bethesda, como animações robóticas ou por vezes quebradas, há muito potencial na imensidão do espaço.

O combate com a perspectiva em primeira pessoa é satisfatório, por mais que não seja o foco do game, e oferece uma variedade interessante de armas e recursos.

Melhor que isso, em muitos casos pode nem ser necessário o confronto direto. Não apenas por ataques furtivos, mas também com o bom e velho diálogo.

O acúmulo de atividades iniciais e a falta de explicações faz do começo de “Starfield” ainda pior que a lentidão de “Skyrim” ou a confusão de “Fallout 3” – uma mistura problemática de ambos.

Com o tempo, assim como em seus antecessores, o jogo evolui junto das habilidades do protagonista. O combate espacial se torna mais complexo, as diferentes sociedades se aprofundam.

A história continua rasa e previsível, mas entrega mais diversão. Resta ao jogador saber se vale dedicar 10, 20, 30 horas até chegar a este ponto. Isso sem falar nos R$ 350 investidos por quem não tem Game Pass (o jogo é parte do catálogo da plataforma por assinatura da Microsoft).

Assim como “No Man’s Sky” e “Cyberpunk 2077” antes dele, “Starfield” sofre com as próprias promessas. Ao contrário desses exemplos, o jogo da Bethesda chega com bem menos problemas – e muito mais potencial.

Para os menos ansiosos, não é má ideia esperar um pouco. Com o modelo atual da indústria, games nunca são lançados 100% prontos e têm muito a crescer com o tempo. “Starfield”, mais do que qualquer outro, tem muito espaço para isso.


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