Supercriatividade na era da Inteligência Artificial é um dos eixos da Nova Bienal de Arte e Tecnologia, megaexposição que está em cartaz no Museu do Amanhã, na Praça Mauá, até 29 de outubro, com um panorama inédito formado por 70 obras de 30 países. É quase uma visita através de filmes de ficção científica de antigamente, daqueles que qualquer um ou se espantava ou gargalhava fazendo troça do absurdo de alguém inventar algo similar. Em 2023 é.
Ao percorrer o Museu do Amanhã, o público chega propriamente ao tema “Supercriatividade” diante do trabalho de artistas como o canadense Louis-Philippe Rondeau, autor da instalação Liminal, que se refere à questão limite entre o espaço e o avanço inexorável do tempo, onde o espectador passa através de um portal fazendo com que a sua imagem se transporte para uma outra dimensão. Tudo para provocar o questionamento: até onde vai o embate construtivo entre a criatividade humana e a criatividade da inteligência artificial?
É por esta estrada afora que caminha também o alemão Robin Baumgarten com o trabalho Quantum Jungle, uma obra interativa que cria uma reflexão do avanço da física contemporânea. A instalação interativa contém conceitos da física quântica que possibilitam ao visitante ter uma experiência inusitada e espetacular. Como? Combinando molas sensíveis ao toque e 1200 LEDs. A instalação calcula a equação de Schrödinger para modelar o movimento de uma partícula quântica e demonstra conceitos como superposição, interferência, dualidade partícula-onda e colapso de onda quântica.
A montagem de um projeto tão abrangente, dotado de complexidade incomum em atrações culturais mais assíduas na programação do Rio, faz com que a organização promova a formação de mais de 50 mediadores e educadores com a função de mediar o contato do público com as obras apresentadas. “Estamos completamente disponíveis para estabelecer no Rio de Janeiro um evento de proporção consistente nesse tema, que é a nossa plataforma há décadas. Criar conhecimento é uma ação cultural”, dizem os curadores Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, que são referência mundial pela realização de exposições de arte eletrônica e pela fundação do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, realizado há mais de 20 anos.
Segundo o curador Ricardo Barreto, a criatividade supera obstáculos e constrói novas realidades. Em cada momento, como diz a Filosofia, a arte se encontra fechada na clausura de sua época. No entanto, a criatividade produz de tempos em tempos fissuras que permitem à arte atravessá-las para novos universos. E é quase uma norma dizer que a criatividade é uma propriedade exclusiva da arte. “A criatividade não se limita apenas às artes. Ela também acontece em todas as demais disciplinas da Cultura. Desta forma, ela deixa de ser somente criatividade no sentido estético e passa a ser uma Supercriatividade: a somatória de todos os motores criativos que permeiam e se conectam à nossa cultura. Na economia, nós a vimos aparecer na ‘criatividade destrutiva’ de Joseph Schumpeter e na ‘teoria disruptiva’ de Clayton Christensen. Nas Matemáticas, a vimos na criação da máquina universal de Alan Turing, na construção de células autônomas de John von Neumann e nos circuitos lógicos eletrônicos de Claude Shannon”, destaca.
Paula Perissinotto continua: “A Supercriatividade, no entanto, não é uma propriedade da Inteligência Artificial, mas a sua própria inventora. A Supercriatividade, em parceria ou não com a Inteligência Artificial, é e será a principal condição para o desenvolvimento do mundo em todos os seus matizes.” Na prática, o espectador é convidado a experimentar instalações com realidades aumentadas, realidades virtuais, trabalhos com inteligência artificial, instalações interativas, machine learning, animações, gameart e vídeos. É possível tocar, percorrer instalações e se integrar às obras, como em projeções, além de compor retratos em tempo-real, entre outros.
Além de Liminal e Quantum Jungle, tem o Wave Atlas, do Marpi Studio, dos Estados unidos, Supreme, de Sam Twidale & Marija Avramovic, artistas de França e Sérvia, para citar alguns. Em Wave Atlas usuários criam e descobrem um mundo aquático fecundo em vida artificial digital: quanto mais pessoas interagem, mais rica e complexa essa ecologia se torna. Agora em Supreme descortina-se um imaginário mítico, em linhas gerais, uma animação em tempo real que é o lar de várias criaturas não humanas diferentes a interagir entre si e muito mais.
Serviço: NOVA BIENAL RIO DE ARTE E TECNOLOGIA / Exposição: até 29 de outubro / Classificação: Livre / Local: Museu do Amanhã – Praça Mauá, 1 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20081-240 / Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h (com última entrada às 17h). Às terças-feiras a entrada é gratuita. Nos demais dias, os ingressos custam R$ 30 a inteira e R$ 15 a meia-entrada. Venda on-line.