
Segundo Braga, os achados indicam que o processo de toxicidade retiniana pode começar de forma silenciosa, antes mesmo das manifestações funcionais observadas por exames clássicos. Para ele, essa é uma janela de oportunidade para intervenção precoce e prevenção de perdas irreversíveis da visão. “Sem dúvidas, esse é o principal achado do nosso estudo. Esses pacientes têm que ser monitorados de perto e adequadamente, para que alterações iniciais no campo visual sejam detectadas a tempo.”
Ainda não há comprovação de que os danos identificados possam ser revertidos. Pelo contrário: segundo o pesquisador, a toxicidade da hidroxicloroquina pode continuar progredindo mesmo após a interrupção do tratamento, o que reforça o papel do diagnóstico precoce.
Este é o primeiro estudo de caso-controle a empregar óptica adaptativa na comparação direta entre usuárias de hidroxicloroquina e controles saudáveis, o que representa um marco metodológico na área. No entanto, a incorporação da tecnologia aos protocolos clínicos ainda depende de avanços. “Estudos maiores ainda precisam ser feitos, mas acreditamos que um estudo prospectivo seria fundamental para que essa tecnologia seja incorporada às diretrizes oficiais”, destaca Braga.
Apesar dos custos e da necessidade de profissionais especializados, a óptica adaptativa pode se consolidar como uma ferramenta promissora para diversos contextos na oftalmologia. O pesquisador adianta que já há pesquisas utilizando a técnica para avaliar alterações retinianas em pacientes com diabetes e distrofias hereditárias. “O objetivo é proteger a visão desses pacientes a longo prazo, oferecendo alternativas para detectar o problema antes que ele se torne irreversível”, conclui.
*Eduardo Nazaré, da Assessoria de Comunicação da FMRP
**Estagiário sob orientação de Moisés Dorado