Tecnologia pode ser o motor para modelo descentralizado da Web 3


A volta da internet ao modelo descentralizado, antes da concentração atual de poder de processamento e dados em big techs gigantescas, pode trazer de volta o poder do indivíduo sobre seus dados, inclusive com o pagamento por eles. Essa é uma das promessas do modelo da Web 3, apoiada em tecnologias como blockchain e inteligência artificial (IA). Hoje, porém, até por falta de conhecimento e usabilidade, este universo está restrito a ambientes relacionados, principalmente aos mundos dos jogos e criptomoedas, embora já ofereça benefícios reais.

“A IA é o motor que vai nos levar à Web 3”, diz Tatiana Revoredo, integrante da Oxford Blockchain Foundation, jornalista e fundadora da consultoria Global Strategy. Para ela, porém, a descentralização será uma escolha da sociedade, uma vez que a concentração é a marca da IA, dependente de grandes volumes de dados e poder de processamento só disponíveis em empresas gigantes. Já a tecnologia blockchain pode ajudar a trazer confiança no mundo distribuído.

Revoredo acompanhou de perto discussões sobre a regulação do tema no parlamento europeu, onde a descentralização surgiu como tema para solucionar problemas relacionados à privacidade ante a concentração de dados entregues de graça a poucos players. Uma das questões para desatar o nó seria a participação colaborativa de todos os atores interessados no tema para aumentar o impacto positivo da tecnologia na sociedade.

Um exemplo já em curso neste sentido é uma espécie de marketplace para venda de dados pessoais em troca de tokens, como criado pela Ocean Protocol Foundation – em tese, qualquer indivíduo pode, por exemplo, transacionar informações como seu trajeto diário de casa para o trabalho, hoje fornecidas a terceiros por uso de aplicativos. “O problema é regulação e gente, e não tecnologia.”

Experiência sensorial do metaverso pode ser caminho para a colaboração entre as empresas”

— Alexandre Del Rey

Segundo ela, o Brasil enfrenta um desafio anterior – a falta de profissionais para trabalhar com nuvem, o básico deste universo, já que, por ora, as empresas por aqui usam a computação em nuvem ainda majoritariamente para infraestrutura como serviço. Mas para Fabiana Falcone, diretora de desenvolvimento comercial cloud da Embratel, a nuvem tem o poder democrático de impulsionar a descentralização, mesmo que seja dominada por fornecedores de hiperescala.

“O mundo 3.0 é híbrido e multinuvem, abraçando qualquer dado remoto que seja consumido, não só aqueles armazenados nos hiperescalas”, afirma Falcone. A executiva crê que a adoção de multicloud é uma estratégia de sobrevivência e vai além de afastar a dependência de um determinado fornecedor para incluir até questões como a possibilidade de colaboração entre empresas. “Até mesmo concorrentes podem discutir a construção de algo maior em processo de inovação aberta”, diz. “A experiência sensorial do metaverso pode ser um caminho para a colaboração entre as empresas”, acrescenta Alexandre Del Rey, sócio fundador da I2AI.

Uma das dificuldades da visão descentralizada é a usabilidade. Distante do cidadão comum, excessivamente próxima dos conceitos e riscos relacionados às criptomoedas, mesmo as empresas, que devem ser as primeiras beneficiadas pela Web 3, ainda estão arredias, diz Rodrigo Junco, co-fundador da BrDot.

A empresa nasceu há cerca de dois anos para trazer ao Brasil a abordagem da Helium, primeira rede sem fio descentralizada no mundo apoiada em pontos de acesso (gateways) voltados à conectividade para internet das coisas (IoT) por protocolo de comunicação de baixo consumo energético e longo alcance para dispositivos de radiofrequência. A rede tem mais de 6.000 pontos de acesso na América Latina e é dedicada à última milha, no campo e em cidades, com cerca de 1.500 gateways no Brasil, onde funciona em banda não licenciada de 900 Mhz.

A americana Helium surgiu em 2013 e hoje se apoia em blockchain para manter sua rede de conectividade aberta – em tese, qualquer um pode comprar um ponto de acesso para uso próprio ou de terceiros e, dependendo do volume de tráfego, ser remunerado por isso, a exemplo do que é feito com carga excedente de geração própria de energia solar, injetada nas redes das distribuidoras. A remuneração é em tokens, negociados como qualquer outra cripto no mercado.


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