Em países de população mais idosa e mão de obra escassa, robôs ganham espaço nas cozinhas. O principal exemplo é a Coreia do Sul, onde braços mecânicos fritam frango, passam café e servem cerveja. Nos Estados Unidos e na França, também há robôs que fazem pizza.
Os robôs assistentes ganharam o nome de “cobots”, uma contração de robôs colaborativos, em inglês.
Esses mecanismos foram feitos para cooperar com humanos, mas existem também restaurantes sem trabalho humano na ponta. Há um cobot para cada dez operários em território sul-corenano, de acordo com dados da Bloomberg.
Só a coreana Doosan Robotics oferece 13 configurações de braços robóticos. O mais poderoso deles, chamado de “H-Series”, carrega até 25 quilos e é adequado para galpões logísticos. Os que operam na cozinha, sob o nome “E-Series”, entretanto, carregam cerca de 5 quilos e trocam força por precisão.
As especialidades do cozinheiro robô são fritar por imersão a 170º C, passar três expressos em 15 segundos, cozinhar macarrão com qualidade consistente, servir sorvete e tirar chope da torneira.
A Doosan chamou a atenção do resto do mundo ao levantar US$ 312 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhões) em sua oferta pública inicial, feita no início deste mês.
A baixa natalidade na Coreia do Sul, a menor do mundo, justifica o sucesso dos braços mecânicos no país.
Lá, a Rainbow Robotics, apoiada pela Samsung, representa a principal concorrente da Doosan. As ações da empresa dispararam 350% neste ano, segundo a Bloomberg.
A avaliação da Rainbow Robotics fica na casa de 3 trilhões de wons (R$ 11,2 bilhões) ante 1,7 trilhão de wons (R$ 6,4 bilhões) da Doosan.
A Doosan fechou parceria com a Microsoft em agosto para integrar um sistema de inteligência artificial baseado no ChatGPT em seus robôs, o que permitiria, por exemplo, comandos de voz.
Há a promessa da empresa de adquirir outra startup da área de mobilidade de robôs para adicionar movimento aos braços mecânicos.
Nos Estados Unidos, a escassez de mão de obra é menos grave, mas empreendedores apostam em formas de automatizar cozinhas há mais de uma década.
Fundada ainda em 2017, a startup Zume, por exemplo, levantou US$ 400 milhões (R$ 2,02 bilhões) com um protótipo de robô pizzaiolo —um modelo de negócios que chegou à França, mas não à Itália, onde seria considerado um sacrilégio.
Na França, o formato era representado pela startup Pazzi, que desenvolveu o próprio robô que faz pizzas.
Vídeos que circularam em 2021 mostram um macaco hidráulico abrindo a massa, enquanto o robô na sequência adiciona molho, recheio e leva a iguaria ao forno. A ideia levantou 12 milhões de euros (cerca de R$ 64 milhões) em investimentos.
Ambos os negócios, entretanto, não conseguiram se bancar e anunciaram ter encerrado o desenvolvimento de robôs pizzaiolos neste ano. A Pazzi fechou as portas e a Zume agora está focada na produção de embalagens sustentáveis e na criação de cozinhas móveis.
O principal representante desse setor ainda em atividade é a PizzaForno. Com uma premissa menos impressionante, a unidade do tamanho de um contêiner de 6 metros promete entregar uma massa artesanal em três minutos, por preços entre US$ 13 (R$ 65,69) e US$ 16 (R$ 80,85).
A automatização é mais simples. A empresa carrega as máquinas com pizzas prontas, que ficam armazenadas por até três dias, antes de serem descartadas de forma automática, se não forem consumidas. O cliente seleciona o sabor e o disco vai ao forno antes de ser entregue em uma gaveta.
É mais similar a uma máquina de venda de refrigerantes e petiscos, integrada com um forno. A PizzaForno opera, atualmente, em 53 endereços nos Estados Unidos e no Canadá.
No Brasil, onde o trabalhador ainda é barato em relação ao exterior, a automatização das tarefas de cozinha engatinha. Fica mais restrita a lavadoras de louça, fornos inteligentes e autoatendimento.
Na opinião de Caroline Nogueira, chefe-executiva da Premium Refeições Corporativas, rede de restaurantes presente em oito estados, adotar soluções para automatizar a cozinha gera economia no longo prazo e melhora a qualidade do serviço. “Ajuda a manter um padrão e ainda economiza em energia elétrica, água e desperdício de ingredientes.”
Para Nogueira, o preço desses utensílios inteligentes ainda é o impeditivo. Ela, que acabou de voltar de uma feira de tecnologia em restaurantes na Itália, diz que um forno inteligente pode custar até R$ 65 mil. “Eles reconhecem comandos como ‘asse um pão’. O aparelho define temperatura e tempo adequado.”
A executiva do ramo da alimentação diz que é preciso fazer um planejamento financeiro, já que o investimento em tecnologia tem de ser adequado à escala do negócio. “Tem de colocar cada centavo poupado, evitando desperdício, para fazer as contas baterem no fim.”
Os interessados em automação podem experimentar o gosto do auxílio de um robô em casa com um Thermomix —aparelho de cocção controlada inventado há 50 anos, que passou a ganhar outras tarefas ao longo do tempo. O eletrodoméstico inteligente é vendido no Brasil desde 2011.
A partir de instruções complexas, a versão mais recente liquidifica, pica, descasca, fatia, rala, tritura, mói todos os tipos de grão, emulsiona, cozinha e até sova massa. Conectado à rede Wi-Fi, o equipamento também baixa receita e cita os passos ao cozinheiro de plantão.
A Thermomix TM6 é vendida no país por valores em torno de R$ 10 mil. O preço pode aumentar a depender da forma de parcelamento, em até 21 vezes.
Com Bloomberg