Um lugar para pensar como serão os produtos e serviços da mobilidade do futuro: esse é o propósito por trás do recém-lançado Centro de Inovação e Tecnologia da Tembici, em São Paulo. “Reunimos profissionais de competências diversas, como desenvolvimento de software, engenharia eletrônica e mecânica, para imaginar as bicicletas compartilhadas e outros serviços que ainda vão vir”, diz Maurício Villar, cofundador e COO da empresa por trás das “laranjinhas” do Itaú, presença constante na paisagem paulistana.
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A reportagem de Época NEGÓCIOS foi convidada para uma visita exclusiva ao Tembici Labs, espaço de 320 m2 localizado em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. O local foi projetado para abrigar um ecossistema completo de mobilidade sustentável, com desenvolvimento de tecnologia própria para as bicicletas, as estações e toda tecnologia para a operação de mobilidade ativa compartilhada.
Segundo o executivo, a origem do centro de inovação remonta à compra da startup Angoera, com expertise em IoT (internet das coisas) e no desenvolvimento de produtos eletrônicos, no ano passado. “Trouxemos todo o time da startup para dentro da Tembici, no modelo acqui-hiring, mas mantivemos sigilo até o projeto avançar e podermos comunicar ao mercado”, conta Villar.
O valor da compra não foi revelado, mas tanto o plano de expansão da Tembici – que atualmente conta com 30 mil bikes compartilhadas em 15 cidades da América Latina – quanto os investimentos em tecnologia e inovação estão sendo financiados pelo empréstimo de R$ 160 milhões que a empresa levantou junto ao BNDES (R$ 80 milhões foram adquiridos junto ao Fundo Clima).
Laser lateral
Foi do Tembici Labs que saiu o projeto das novas bicicletas elétricas da marca, produzidas nas fábricas de Extrema (Minas Gerais) e Manaus (Amazonas). “Colocamos muita inovação para lançar um produto que a gente possa chamar de nosso, com funcionalidades que ajudam na qualidade da operação”, afirma Villar.
Os novos modelos – que podem ser carregados na própria estação – vêm com pedal assistido e um laser lateral, que indica a distância mínima de segurança em relação a outros veículos, segundo a lei (1,5 m). Além disso, contam com uma espécie de pneu ‘infurável’. Em vez de câmara de ar, que é o convencional do mercado, as bicicletas levam um material chamado EPTU, que é uma borracha bastante maleável.
“Com isso, se um prego ou pedaço de vidro entrarem no pneu, o estrago será pequeno e não fará o pneu esvaziar”, diz o executivo. “Também utilizamos uma dimensão de roda diferente, com raio rígido e reforçado, e dobramos a autonomia, de 50 km para 100 km. Isso faz com que as bicicletas fiquem disponíveis por mais tempo aos usuários.”
Outras inovações ainda devem ser acrescidas ao modelo: está prevista a instalação de sensores que permitam medir a temperatura, a umidade e a poluição do ambiente, e instrumentos capazes de detectar até mesmo buracos nas vias.
Os primeiros 500 modelos já foram entregues em Belo Horizonte (MG). Até o fim do ano, a nova bike elétrica também estará disponível em oito capitais da América Latina. “Pretendemos continuar inovando para deixar a bike com mais qualidade para os usuários. Nosso propósito é ter cada vez mais gente pedalando”, afirma Villar.
A empresa deve colocar mais 10 mil bikes elétricas nas ruas até 2024, uma resposta à demanda de mercado. Nos últimos três anos, os deslocamentos com e-bikes compartilhadas saltaram de 56 mil para mais de 11 milhões na América Latina. Somente em 2023, a alta foi de 66% em relação ao ano passado, segundo pesquisa da Tembici, que é líder do setor na região.
De acordo com o executivo, o novo centro de inovação, além de impulsionar a melhora da qualidade do produto e das estações, permitiu a redução de custos e o controle maior da cadeia de produção. “O Tembici LABS dá mais autonomia para a empresa se expandir”, afirma o executivo
Outra novidade que deve ser lançada até o fim do ano é a coleta e a contabilização automática, e em tempo real, de créditos de carbono. “Isso é feito conforme os usuários pedalam, por meio de uma tecnologia de blockchain”, diz Villar. “Um sistema determina quantas viagens foram realizadas e quanto CO2 deixou de ser emitido, o que gera créditos de carbono que serão validados por institutos globais.”
Ainda de olho na sustentabilidade, a Tembici substituiu a corrente convencional, que requer lubrificação e manutenção, por uma correia dentada. “Com isso, deixamos de utilizar óleo lubrificante na operação. Parece pouco quando se pensa em apenas uma bicicleta. Mas estamos falando de um universo de 30 mil unidades na América Latina, e aí o impacto é considerável”, diz Villar.