Ucrânia quer usar detector de mentiras em árbitros. Regras do futebol permitem?


A Associação Ucraniana de Futebol informou nesta terça-feira (20) que os árbitros do país serão submetidos a teste de polígrafo (detector de mentiras) antes das partidas. A medida da entidade, presidida pelo ex-atacante Andriy Shevchenko, busca diminuir as reclamações das decisões dos juízes e possíveis casos de corrupção.

A medida foi tomada por Kateryna Monzul, nomeada recentemente como chefe da arbitragem da entidade responsável pelo futebol ucraniano.

O anúncio gerou bastante polêmica e dividiu opiniões da comunidade do futebol. Afinal, seria permitido introduzir o equipamento sob a justificativa de garantir a integridade do esporte?

O advogado Rafael Ramos, especialista em direito desportivo, entende que a medida “viola o âmago de todas as normas federativas desportivas, a ética desportiva, pois não respeita a intimidade privada do ser humano, é invasivo como coagir o árbitro a apitar em favor de A ou B. Por consequência, viola os direitos humanos fundamentais, os direitos de personalidade”.

“Existem outros meios já adotados, como VAR para evitar a restrição da liberdade e intimidade do indivíduo, que enquanto membro de arbitragem, não deixa de ser pessoa humana”, acrescenta o especialista.

Vinicius Loureiro, advogado especializado em direito desportivo, afirma que “em casos extremos de insegurança com relação à integridade, medidas heterodoxas podem se fazer necessárias”.

“Entendo que a utilização do polígrafo para identificar e prevenir casos de corrupção e manipulação de resultados, ainda que nada usual, não encontra barreiras intransponíveis nas regras gerais da modalidade. O que se poderia questionar é, tendo sido uma definição do judiciário ucraniano, isso poderia ser considerado como uma interferência estatal sobre a autonomia administrativa da federação nacional. No entanto, dada a relevância das questões de integridade e da gravidade do problema, não imagino que essa questão será levantada. Outros pontos que precisam ser entendidos são como os árbitros aceitarão essa questão e a confiabilidade de tais testes, mas tendo essa medida se mostrado necessária, esses questionamentos se tornam secundários diante da necessidade de preservar a integridade das competições”, avalia.

De acordo com o comunicado da Associação Ucraniana, Kateryna Monzul terá a função de desenvolver um método para a utilização do polígrafo, que será utilizado após os sorteios dos jogos.

A utilização dos polígrafos nos árbitros de futebol da Ucrânia segue uma proposta feita pelo Judiciário do país, que também estuda a possibilidade desse método em juízes e magistrados da nação.

Crédito imagem: Deposit Photos

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