Mulher, cientista, imigrante e uma das 100 pessoas mais influentes em inteligência artificial no mundo, segundo levantamento da revita Time. Alguns podem até não conhecer, mas Fei-Fei Li é nome relevante no mundo da tecnologia tal qual Sam Altman, criador do famigerado ChatGPT, e Geoffrey Hinton, tido como o ‘padrinho da IA’. E não é para menos. A pesquisa da cientista lançou as bases para os sistemas de IA de reconhecimento de imagens que operam hoje, fato que ela mesma descreve em detalhes em seu novo livro, “The Worlds I See: Curiosity, Exploration, and Discovery at the Dawn of AI” (Os Mundos Que Vejo: Curiosidade, Exploração e Descoberta no Amanhecer da IA, em tradução livre), a ser lançado em 7 de novembro.
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“É uma memória científica, e quero enfatizar ambas as palavras. É uma memória em termos de uma jornada de uma cientista em crescimento, desde os 13 anos até amadurecer. Mas também é um livro de ciência acessível ao público”, disse Fei-Fei Li, durante participação no Dreamforce, um dos maiores eventos globais de tecnologia realizado pela Salesforce, este mês, em São Francisco (EUA). Época NEGÓCIOS esteve presente na conferência e acompanhou o painel “O que o universo pode nos ensinar sobre IA?”, com Fei-Fei Li e Jessica Sibley, CEO da Time.
Nascida em Chengdu, na China, Li é professora de Ciência da Computação na Universidade de Stanford e fundadora do Instituto Stanford para a IA Centrada no Ser Humano, bem como cofundadora da AI4ALL, uma organização sem fins lucrativos que busca aumentar a diversidade e a inclusão na IA. Ela ainda é membro da Academia Nacional de Engenharia, da Academia Nacional de Medicina e da Academia Americana de Artes e Ciências.
Aos 15 anos, a cientista se mudou com a família para os EUA, onde estudou Física e Ciência da Computação em Princeton, e concluiu seu doutorado em Engenharia Elétrica no Instituto de Tecnologia da Califórnia.
“Tudo começou com a história daquela garota nerd que amava insetos e estrelas. De repente, minha família foi arrancada da China e mudou-se para Nova Jersey. Me tornei uma jovem americana em um novo país sem falar o idioma, e fui para Princeton, apesar dos desafios como imigrante”, contou a cientista.
Em 2006, Li começou a trabalhar no ImageNet, um grande banco de dados de imagens categorizadas e rotuladas. Três anos depois, ela e sua equipe de pesquisa em Stanford, com a ajuda de trabalhadores terceirizados, rotularam 3,2 milhões de imagens. No ano seguinte, organizaram uma competição para ver quem poderia projetar um sistema de IA que determinasse com maior precisão o conteúdo das imagens.
“Descobri a IA durante meus estudos de graduação, e aquele foi um momento que abriu minha jornada como cientista para um mundo completamente diferente”, conta ela.
Ao fornecer aos pesquisadores um referencial comum, Li acelerou o desenvolvimento de redes neurais convolucionais (CNNs) profundas, que se tornaram uma tecnologia essencial em várias aplicações de IA, incluindo sistemas de reconhecimento de imagem e processamento de linguagem natural.
“Essa experiência de ser uma imigrante jovem nos EUA e trilhar meu próprio caminho na sociedade global ajudou a me conectar com as pessoas e a conectar a tecnologia com as necessidades das pessoas”, ressaltou a cientista, que é otimista em relação ao futuro da inteligência artificial e seus impactos na humanidade.
“A IA pode ser uma ferramenta inteligente e poderosa, mas são os humanos os responsáveis por criar, implementar, desenvolver produtos em torno dela e governar. Toda a minha esperança em relação a para onde essa tecnologia está indo reside nas pessoas, não na tecnologia em si.”
Um abraço à tecnologia
Além de um período atuando no Google, entre 2017 e 2018, Li passou sua carreira na academia e sempre foi uma defensora ativa da diversidade na IA. “O mundo é composto por pessoas de origens diferentes. Esse tipo de tecnologia afeta toda a humanidade e pode trazer consequências graves. Precisamos da representação adequada e de valores humanos coletivos no comando.”
Nesse sentido, a cientista defende um abraço sincero, por parte das pessoas em geral, mesmo as mais céticas, a IA. Durante o Dreamforce, ela fez uma analogia entre o momento atual e o surgimento de outras tecnologias no passado, a exemplo da eletricidade, que levantaram discussões e dúvidas semelhantes. “Usamos prontamente medicamentos como o Tylenol [paracetamol], apesar de não compreendermos totalmente a sua composição química”, destacou ainda.
A especialista acrescenta que as ferramentas podem ser aproveitadas para mitigar vieses humanos, e citou como exemplo um estudo realizado por pesquisadores do Google, que comparou a distribuição do tempo de tela entre atores de diferentes gêneros em filmes de Hollywood. Após a análise, verificou-se que os homens eram os que apareciam mais vezes. “Essa é uma quantidade de dados tão grande que os humanos não conseguiriam analisar manualmente, mas as máquinas podem fazer isso facilmente.”
Em sua visão, embora a IA seja “nova, poderosa e aparentemente avassaladora, todos têm um papel a desempenhar. Não importa qual emprego tenhamos, gradualmente ou até mesmo rapidamente, ele será impactado pela IA. Ao nos educarmos e envolvermos com a tecnologia, nos tornamos mais vigilantes”, afirma.
* A jornalista viajou a convite da Salesforce
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